Texto: Thiago Santos
Fotos: Last Time Produções e Fernando Marques (acesse os álbuns completos no facebook clicando nos links).
No último sábado, dia 12 de Outubro de 2013, uma verdadeira celebração do Doom Metal nacional ocorreu em São Paulo. Nada menos do que uma grande união do cenário underground que, mesmo sem grande divulgação em quaisquer mídias além do facebook entre o próprio público e as bandas, conseguiu trazer cerca de 300 pessoas ao Arena Metal (localizado próximo à tradicional Galeria do Rock de São Paulo) para este grande evento que certamente foi um dos pontos altos do ano e também da história do estilo no Brasil.
O evento contou com as bandas Lugubres (SP), Les Mémoires Fall (São José dos Campos/SP), Apocalyptichaos (Goiânia/GO), Mythological Cold Towers (SP) e HellLight (SP), com direito a sorteio de uma guitarra modelo Flying V autografada por todos os integrantes das mesmas.
Para dar inicio às apresentações da noite, a Lugubres sobe ao palco. Devido a alguns problemas, a banda teve seu tempo de apresentação reduzido, fator que impediu que pudessem apresentar mais músicas, mas de forma alguma reduziu a vontade da banda de impressionar o público. Abrindo com a já conhecida “Heavy Chains of Sorrows Put My Soul to Down”, música que integra o split lançado em conjunto com a Les Mémoires Fall no ano passado, demonstraram uma ótima energia e carisma que, aliado com o peso de suas músicas, cativou rapidamente o público que vibrava a cada nota e se divertia na mesma intensidade que os integrantes.
Lugubres
Deram seqüência com “Autumn of The Soul”, outra também do split, que já era conhecida de boa parte do público e, para encerrar, uma música inédita chamada “Death (or Hymn Of Essential True)”, que deixou os presentes mais contemplativos ao acompanharem uma novidade que soou tão pesada e melodiosa quanto as outras. Apesar da curta apresentação, a Lúgubres deu seu máximo e abriu o evento de forma mais empolgante impossível!
Lugubres
Após um curto intervalo, eis que a Les Mémoires Fall sobe ao palco para sua primeira apresentação na capital. Era nítida a felicidade da banda em estar ali já que, além de integrar um festival dessa magnitude, estavam divulgando seu primeiro full-lenght que será lançado ainda este ano, intitulado “Endless Darkness of Sorrow”. Com um disco pronto na bagagem, era a hora de mostrar ao público de São Paulo o som da banda.
Les Mémoires Fall
Dando início, a música escolhida foi a até então inédita “Mourning Your Death”, que foi o cartão de visitas perfeito para um ótimo início. É importante destacar o grande entrosamento da banda, que demonstrou estar muito bem preparada, refletindo isso na atmosfera única que suas músicas criavam. A apresentação seguiu com uma das músicas lançadas no split com a Lugubres, “My Death”, com destaque na alternância de vocais limpos da vocalista Naimi Stephanie e guturais do também baixista Emerson Mördien, que casam tão bem com o andamento mais cadenciado de toda a música.
Em seguida, mais músicas novas, com “River of Pain” que já havia sido divulgada antes do lançamento oficial do vindouro full-lenght, emendada com a também nova e inédita “My Last Pain”, momento de destaque da apresentação pelo peso das composições e ressaltando novamente o ótimo trabalho instrumental de todos os integrantes.
A esta altura a banda já havia conquistado todo a platéia, que acompanhava atenta cada passagem, e deixado sua marca para muitos que a estavam ouvindo ali pela primeira vez. Então, para encerrar, outra música já lançada no split, que é tida pela banda como um marco do começo de tudo e, por isto mesmo, foi o ponto alto da apresentação esbanjando feeling. “Deception” encerrou a apresentação de maneira envolvente, com sua ótima atmosfera de teclados, solos de guitarra, bateria marcante e a mescla de vocais que caracteriza tão bem o som da banda. Digno de ser lembrado!
Les Mémoires Fall
A próxima banda a se apresentar foi a Apocalyptichaos, de Goiânia. A ansiedade do público ficou visível, sendo esta uma banda que mesmo com poucos singles gravados, tem uma boa legião de fãs que ali estavam para conferir enfim as músicas e conhecer seus integrantes, que são totalmente engajados em levantar a bandeira da União Doom Metal pelo Brasil.
Apocalyptichaos
O show começou com a intro “Prelude to December” seguida de “Lies”, que foi conferida com atenção pelos presentes por se tratar de uma novidade preparada especialmente para a ocasião. Em seguida, “Reborn From My Ashes”, que com suas passagens rápidas garantiu a empolgação de todos. A próxima música apresentada foi “Cry In The Dark”, que já era do gosto de boa parte dos presentes, sendo uma das músicas de trabalho divulgadas amplamente nas redes sociais. Suas linhas vocais (executadas por Ellen Maris e Sandro Pessoa, também guitarrista) foram bem acompanhadas por alguns fãs e o entusiasmo era geral a este ponto.
Em seguida, para surpresa e porque não emoção de muitos, anunciaram que iriam executar um cover para “Teargas” do Katatonia, banda que é tida como grande influência para os integrantes. Neste momento, um convidado especial foi convidado para cantar: Rafael Sade (HellLight) se junta aos vocais e, de maneira impecável e descontraída, presenteiam os fãs com este belo cover, cheio de harmonias e passagens envolventes. “Never Be” veio em seguida mantendo o pique e peso característicos da banda, sendo mais uma novidade para o público que a recebeu muito bem.
Porém, o ponto alto da apresentação ficou mesmo reservado para o final. “Nemesis” foi tocada com maestria, com seus pesados riffs que garantiram fervor geral, talvez sendo esta a música de trabalho mais aclamada da banda e já um clássico do estilo. Vale ressaltar o desempenho individual e conjunto de todos os membros, que tocaram com muita segurança e pegada, deixando as músicas com ainda mais peso ao vivo. Esta foi a primeira apresentação com o novo baterista Weyner Henrique (atualmente nas bandas Ressonância Mórfica/Alltorment) que desempenhou seu papel com vigor.
O vocalista Sandro Pessoa, num gesto de atenção e humildade, pediu desculpas aos presentes pelos danos causados à sua voz pela longa viagem até São Paulo, fator que não chegou a comprometer seu desempenho diante de uma platéia ávida por enfim prestigiar a apresentação, que foi excelente!
Apocalyptichaos
Mais um breve intervalo seguiu-se, causando apreensão pelo momento que viria a seguir assim que o backdrop ia sendo montado. Estava prestes a subir ao palco nada menos do que uma das maiores expoentes do Doom Metal nacional, com suas duas décadas de existência e reconhecimento por todo o país e também pelo mundo. Era hora de conferir uma apresentação única: Mythological Cold Towers! A banda seguia em divulgação de seu mais recente trabalho, “Immemorial”, de 2011, disco mais aclamado pela mídia especializada mundial.
Mythological Cold Towers
“Lost Path to Ma-noa”, primeira música de seu mais recente trabalho, foi a escolhida para abrir o show, e era possível ver o nível de emoção dos presentes que pareciam hipnotizados desde os primeiros acordes, sentimento que se seguiu por toda a apresentação, com a banda muito entrosada e curtindo cada momento de estarem ali neste grande evento.
Em seguida, trazendo um clássico de seu primeiro disco, “Sphere of Nebaddon” (1996), foi a vez de “In The Forgotten Melancholic Waves of The Eternal Sea”. Seus riffs certeiros e cadenciados garantiram a agitação do público, que por vezes seguia o vocalista Samej Coatl entoando coros sequenciados. Um momento de pura interação e troca de sentimentos entre os dois lados, que também se seguiu por outros momentos da apresentação.
Mythological Cold Towers
“Fallen Race” e “Like an Ode Forged In Immemorial Eras”, ambas também de seu mais recente disco, seguiram de maneira impecável e mostraram o porquê de tamanho reconhecimento que a banda atingiu não somente com este trabalho, mas em toda a carreira, de modo merecido pelo alto nível de profissionalismo e comprometimento com que executam suas canções. “The Shrines of Ibez” veio logo depois, deixando o público em total estado contemplativo por seu marcante riff e atmosfera única, certamente uma das canções mais esperadas da noite. “Immemorial” e “Akakor” foram as próximas, seguindo com a mesma intensidade e interação da banda e público, que ainda parecia totalmente tomado pelo momento.
Para encerrar, a escolhida foi “Contemplating The Brandish Of The Torches”, de seu segundo disco, “Remoti Meridiani Hymni”, de 2000. Nem é preciso comentar, a este ponto, que sua execução foi totalmente fiel e emocionante, encerrando de maneira magistral um momento que ficará na memória de todos que ali estavam, dada a experiência única que é conferir esta banda de perto.
Mythological Cold Towers
Por último, porém não menos importante, era hora de conferir outra grande representante nacional neste tão obscuro estilo: HellLight, apresentando seu recém-lançado disco “No God Above, No Devil Below”, que em pouco tempo já vem obtendo grande sucesso nacional e internacional, seguindo a tradição da banda em seu exímio Funeral Doom Metal. Vale ressaltar que a organização do evento, pela Last Time Produções, é composta por alguns dos membros da banda, que merecem os parabéns por conseguirem fazer desta noite um total sucesso!
HellLight
Assim sendo, a banda iniciou apresentando suas duas primeiras músicas de trabalho do disco novo, que já haviam sido divulgadas: “No God Above, No Devil Below” seguida de “Shades of Black”, que trouxeram novamente aquele estado hipnótico no público, com destaque aos belíssimos refrãos e bases do vocalista e guitarrista Fabio De Paula aliadas a passagens atmosféricas marcantes de teclado por Rafael Sade, criando um clima perfeito em contraste com a linha instrumental grave de baixo e bateria, a cargo de Alexandre Vida e Phill Mota, respectivamente.
O setlist ainda reservava alguns clássicos, como foi a inclusão da música seguinte, “Nexus Alma”, de seu disco de 2008 intitulado “Funeral Doom”. O público se mostrava atento a cada detalhe e imerso no clima único que a HellLight consegue criar com sua música, especialmente em se tratando de uma música já consagrada no gosto dos fãs.
HellLight
A próxima música, a nova “Unsacred”, deixou a todos impressionados por ser, para a grande maioria, o primeiro contato com a música até então, que cativou de cara com a mesma intensidade das demais e seu refrão certeiro.
O final da apresentação não poderia ser mais clássico, com duas músicas de seu primeiro trabalho, intitulado “In Memory of The Old Spirits”, de 2005. A noite estava ganha quando ecoaram os primeiros riffs de “Winter’s Theatre”, executada com grande fidelidade e emoção em suas passagens inconfundíveis.
Para encerrar, foi a vez de “Fear No Evil”, um dos maiores clássicos da banda e que foi cantado por muitos em conjunto, provando o porquê de ser a HellLight uma das grandes representantes de nossa cena Doom Metal, que como mostrou o festival, está cada dia maior! Uma apresentação memorável para fechar um festival memorável.
HellLight
O saldo final não poderia ser melhor: casa cheia com pessoas de diversos estados do país, fato que todas as bandas fizeram questão de agradecer pelo empenho e vontade de fazer o evento acontecer, mesmo sem uma divulgação em mídias especializadas (que não possuem grande espaço para o Doom Metal) e também sendo em um fim de semana que também trouxe atrações como Black Sabbath e Anathema à capital, como ressaltado por Rafael Sade da organização.
Público de cerca de 320 pessoas participaram deste momento histórico
Entrega da guitarra ao ganhador do sorteio
Isto é uma prova de que o estilo vive, e vai muito bem, com bandas muito competentes e um público extremamente fiel, que tornou a noite de 12/10/2013 uma verdadeira celebração!